Filho de Alois Feichtenberger, primeiro fotógrafo profissional de Goiânia, Kurt Feichtenberger começou suas aventuras sobre duas rodas aos 15 anos de idade, nas corridas de bicicletas nos primeiros anos da década de 1970. Mas, suando em cima de uma magrela, Kurt sonhava mesmo era com desafios mais radicais simbolizados por uma máquina de duas rodas impulsionada por um motor de combustão interna. Aficionado espectador das corridas que movimentavam as joviais ruas do centro de Goiânia em datas comemorativas, mais do que torcer Feichtenberger idealizava pilotar aquelas máquinas reluzentes e ágeis. Domar um cavalo de aço e fibra era a sua meta.
O pai era contra a ideia amalucada do menino Kurt. A mãe, com amor, uma certa dose de cumplicidade e a típica compreensão materna que move a maioria das mães do mundo, ajudou o candidato a piloto a amolecer o coração paterno. Não demorou muito para a garagem da família Feichtenberger comportar uma seminova Yamaha 50cc.
A primeira moto de Kurt tinha história e estava acostumada a pilotos malucos e aventuras radicais. A pequena máquina foi adquirida do poeta Gabriel Nascente e tinha sido coadjuvante de uma das várias aventuras confessadas pelo bardo na obra O Copo das Ilusões, tendo à garupa o "também rapazola dos seus vinte anos, rebelde, irreverente" poeta e escritor Brasigóis Felício."Numa anuviada tarde de sexta-feira, decidimos colocar a minha moto - uma Yamaha, 50 cilindradas - na BR-153, com destino à Morrinhos. Razão: rever as nossas namoradinhas, a Gilma e a Cidália Goltz, as musas das nossas romanescas aventuras; hoje palco de ilusões perdidas... Mas faltava o capacete, o que obtivemos, na base do jeitinho brasileiro: emprestado, pronto, para zarparmos...Bati com o pé direito no pedal de partida da moto e gritei- "S´imbora, máquina!", abrindo o peito na direção da liberdade. A motocicleta, com capacidade para até 140 quilômetros por hora, ia singrando os ares da paisagem rural, que margeava o asfalto, de ambos os lados, com suas alfombras de copioso verde", trafega, poeticamente, Gabriel Nascente.
No pódio
A sorte da valente máquina não foi melhor nas mãos iniciantes de Kurt. "Cheguei a correr com a cinquentinha", recorda. Em meados de 1972, tendo o inexperiente piloto ao guidon, a Yamahazinha enfrentava a pista de terra do Moto Clube de Goiânia.
Depois de muito treinar e testar a resistência mecânica da pequena máquina, em agosto de 1974 o jovem Kurt provou o doce sabor da vitória e pisou nas nuvens do pódio ao vencer a primeira corrida regional do Autódromo Internacional de Goiânia, categoria 125 cilindradas. O gosto do triunfo fez saltar para as pistas o piloto arrojado que pulsava no peito de Kurt Feichtenberger.
De 1974 a 1981, o filho do fotógrafo tornou-se campeão e vice-campeão goiano, campeão e vice paulista e campeão e vice-campeão brasileiro na categoria 125 especial, além de campeão e três vezes vice-campeão da taça Centauro. "Muitas vezes, naquela época, usávamos a premiação para pagar o hotel", diverte-se. Graças às peripécias e ousadias do filho, o fotógrafo Alois Feichtenberger começou a ser conhecido como o pai do piloto Kurt Feichtenberger.
Casamento em duas rodas
A família de Kurt Feichtenberger respira motociclismo desde a sua fundação. Antes de seu casamento, em uma homenagem idealizada pelo motociclista e jornalista Fernando Campos, Kurt deu uma volta no Autódromo Internacional de Goiânia com a noiva à garupa, em uma Honda CB 400 vermelha, acompanhado de um grupo de motociclistas. Foi o primeiro casamento em duas rodas da história da capital goiana.
Excesso de zelo
Além de desfiar um rosário de orações a cada corrida, Karoline Feichtenberger, mãe zelosa que cuidava da segurança do filho Kurt, fabricou com carinho e dedicação o primeiro macacão com tecido resistente envergado pelo destemido piloto. Como é de conhecimento dos espectadores e integrantes do circo da motovelocidade nos quatro quantos do planeta, a glória de qualquer piloto audaz é desfilar pelos boxes com o macacão raspado, gasto pelo contato com as pistas. Quanto maior o estrago, mais intensos são os olhares e demonstrações de admiração e respeito. Entretanto, em uma exagerada preocupação com a aparência do jovem piloto, a cada corrida dona Karoline reformava o macacão e o deixava com cara e aroma de novo para o próximo desafio do filho Kurt Feichtenberger.