30 de set. de 2009

CB 750 Four: a Beth das motos


No ano de 1968,  no Brasil autoritário as entranhas do regime pariram o AI-5, enquanto isso, na terra do Sol Nascente a Honda apresentava ao mundo um novo paradigma em motos, a CB 750 Four, que no país do carnaval e do jogo do bicho ganhou o apelido de Sete Galo. Motor de quatro cilindros em linha, quatro escapamentos cromados, partida elétrica, freio a disco de acionamento hidráulico, câmbio de cinco marchas e um urro inconfundível eram os principais atrativos da máquina.
A CB 750Four chegou ao Brasil em setembro de 1969, tornando-se referência em alta cilindrada. Durante a década de 1970 e início dos anos 80, a sete galo foi a Beth das motocicletas: todos queriam Beth /desejavam Beth /sonhavam com Beth/mas ela nem ligava. A 750 da Honda ligava. Ligada respondia alto e forte à torção do manete do acelerador, oferecendo uma potência de 67 cv e 200 km/h de velocidade máxima.
Em 1983, no Salão de Paris, a Honda apresentou a moderna CBX 750 F, herdeira de 17 anos de evolução da pioneira CB 750, que em abril de 1986 chegou ao mercado brasileiro.
Disponível apenas na cor preta, a moto era a versão comercializada na Europa e EUA montada na Zona Franca de Manaus, com índice de nacionalização próximo a zero. O motor passou por uma tropicalização para aceitar nossa gasolina com álcool, que lhe custou 9 cv. Ela chegou ao mercado a Cz$ 129.290 (cruzados), em valores atuais cerca de R$ 20.500. Seria barata se não fosse por um detalhe inaugurado no Plano Cruzado idealizado pelo governo Sarney: o ágio. Desejada por motociclistas de todo Brasil, na prática a CBX 750F era vendida a Cz$ 400.000, ou seja, US$ 29.050 (cerca de R$ 60.000 em valores atuais). Por isso recebeu o título pouco elogiável de “a 750 mais cara do mundo”.
A versão nacionalizada se manteve praticamente inalterada por quatro anos, apenas com o índice de nacionalização sendo gradativamente elevado. Em 1990 foi lançada a última versão da Sete Galo nacional, batizada de Indy.


29 de set. de 2009

O formato telenovela é uma paixão nacional. Apesar de o machismo brasileiro jurar que novela é coisa de "mulherzinha", muitos marmanjos estacionam a motocicleta na garagem e aboletam-se em frente a TV para acompanhar os folhetins eletrônicos.
Muitas telenovelas brasileiras, além dos ingredientes usuais de uma produção de teledramaturgia, tiveram no elenco uma motocicleta macia e leve passeando seu charme na cidade cenográfica. Algumas entraram para a história da teledramaturgia brasileira.

Cavalo de Aço (1973)


Em 1973 estreava a novela Cavalo de Aço (Globo), de Walter Negrão e direção de Walter Avancini, provavelmente a primeira novela brasileira a ter uma motocicleta como "coadjuvante principal". Na abertura, uma logomarca com a cara de um cavalo tendo os traços de uma motocicleta ao centro. A história contava com um elenco de primeira linha, com Glória Menezes, Tarcísio Meira, Betty Faria, José Wilker, Mário Lago e Carlos Vereza. As cenas externas foram gravadas em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde foi construída a cidade cenográfica de Vila da Prata. Nas chamadas da novela, o eterno casal global: “Na terra de ninguém a força é um direito e o terror é a lei. Marcando a volta de Tarcisio Meira e Glória Menezes no seu horário de novelas das oito da noite”.
Logo no primeiro capítulo, Rodrigo (Tarcísio Meira) chega à cidade fictícia localizada no interior do Paraná em uma possante motocicleta para se vingar do assassinato de sua família.
Cavalo de Aço começou discutindo reforma agrária, mas a censura proibiu. Tentou-se a temática drogas. Assim que os censores leram na sinopse uma cena em que aparecia um papelote de cocaína, decidiram suspender qualquer menção ao assunto. Para fugir da ignara sanha da censura, a trama foi transformada simplesmente numa história de amor.
No meio da trama o vilão é assassinado, garantindo um enredo policial que acabou dominando a novela e segurando a audiência. De acordo com Daniel Filho, no seu livro Antes que me Esqueçam, "A idéia era uma trama de aventuras, com motocicletas passeando pelo Paraná. Mas a novela foi tão mal que, no capítulo 90, disse a ele (Walter Negrão) que a novela ia acabar no capítulo 100".
Os sapatos de sola de borracha usados pelo personagem Rodrigo fizeram moda à época, sendo chamados de "sapatos Cavalo de Aço". A trilha internacional da novela reunia nomes como Marvin Gaye, Stevie Wonder e, abrindo o lado B do vinil, a melosa Don't Say Goodbye (tema de Miranda), entoada pelo cantor Chrystian, antes do mergulho no mundo "breganejo" ao lado do irmão Ralph.
Transcorridos 15 anos, Walter Negrão utilizou a idéia central de Cavalo de Aço para escrever um outro sucesso global: Fera Radical.


Estúpido Cupido (1976)

Última novela da Globo produzida em preto-e-branco, Estúpido Cupido estreou no dia 25 de agosto de 1976 com muitas Lambrettas, blusões de couro, topetes, rock e twist. A novela de Mário Prata tinha como tema principal a participação de uma jovem em um concurso de miss. O enredo tinha como base o ano de 1961 e as mudanças comportamentais da década de 1960 na fictícia cidade de Albuquerque.
A novela foi gravada em Itaboraí, interior do Estado do Rio de Janeiro. As novelas radiofônicas de Janete Clair, a preparação da seleção brasileira para o Mundial de 1962, Repórter Esso e os programas de auditório, com os ídolos da música, são alguns dos panos de fundo da trama.
Um dos pontos altos da novela, a trilha sonora vendeu um milhão de cópias. O bolachão tinha o som pré-jovem guardistas de Celly Campello (Banho de Lua e Estúpido Cupido), roquinhos inocentes como Biquíni de Bolinha Amarelinha Tão Pequenininho (Ronnie Cord), Boogie do Bebê (Tony Campello), Broto Legal (Sérgio Murillo), Diana (Carlos Gonzaga), Bata Baby (Wilson Miranda) e alguns rock-baladas como Quem É? (Osmar Navarro, sucesso na voz de Hebe Camargo) e Sereno (Paulo Molin, que também emplacou na voz de outra cantora, Leny Eversong). A trilha ainda trazia a antológica dor-de-cotovelo Meu Mundo Caiu, com Maysa, e a bossa nova Ela É Carioca.

Fera Radical (1988)

Na abertura a bela Malu Mader e a fera 2T da Agrale, Elefantre SXT 27.5. Mesmo longe - Rio Novo ficou esquecida no passado – no conforto de Ipanema, Rio de Janeiro, a agora jovem Cláudia não perdoa seus algozes. O massacre de sua família, pai, mãe e irmãos, precisa ser vingado, para cumprir a promessa feita a si própria. E a hora é essa. Obstinada, prepara-se para voltar à pequena Rio Novo, empregada em uma das fazendas possível e provavelmente envolvidas no seu triste passado. No meio a tantas dúvidas, apenas uma certeza: quer descobrir os verdadeiros culpados. E se vingar de cada um deles, custe o que custar! Este é o prólogo de Fera Radical, novela de Walter Negrão, escrita com a colaboração de Luiz Carlos Fusco e Ricardo Linhares, com direção de Gonzaga Blota e Denise Saraceni.
Durante as gravações, a atriz Malu Mader, em entrevista à enquete "Você tem medo de quê?" da revista feminina Amiga, assumiu ter medo de andar de moto, o veículo mais utilizado por sua personagem Cláudia.
O cantor Cazuza participou do capítulo 74, na reinauguração da Arqueria Sherwood, cantando Ideologia. Fera Radical foi o último trabalho da atriz Yara Amaral, que faleceria poucos meses depois de ter terminado a novela, na tragédia do Bateau Mouche, reveillon de 1989.
Na trilha nacional, a presença do goiano João Caetano com a bonita canção Pedaços, tema da personagem Olívia.


28 de set. de 2009

Vital e sua moto

Vital e sua moto mas que união feliz /Corria e viajava era sensacional /A vida em duas rodas era tudo que ele sempre quis /Vital passou a se sentir total /Com seu sonho de metal... (Herbert Vianna)

Segundo o arqueólogo britânico Steven Mithen, professor de Pré-História da Universidade de Reading, na Inglaterra, mesmo antes de desenvolver um padrão de linguagem, os hominídeos que viviam entre 50 mil e 100 mil anos atrás utilizavam a música como forma de comunicação e socialização.
Pelo menos neste aspecto a tribo pós-moderna de roupas de couro e máquinas de aço e cromo ainda vive como seus antepassados. A música acompanha de perto os roncos dos motores. E nenhum som produzido por banda nacional marcou mais a geração 80 de motociclistas do que Vital e Sua Moto, composição de Hebert Vianna entoada por uma banda de Brasília de nome esquisito, que depois de Vital se transformou em sucesso do rock brasileiro: Paralamas do Sucesso.
Inspirado em Vital Dias, o ex-baterista da banda, Vital e sua moto foi o primeiro êxito do grupo e um dos pontos altos do primeiro LP, Cinema Mudo, de 1983, pela EMI. Por ter faltado a uma apresentação, Vital foi substituído por Barone. Depois, com a alcunha de Vital Case, o maluco tocou também na Banda Sadom, uma das mais antigas e mais pesadas bandas de heavy metal do underground carioca.




27 de set. de 2009

Easy Rider

O motociclista que nunca assistiu Easy Rider (Sem Destino, no titulo brasileiro) deve estacionar a máquina na garagem e assistir duas vezes ao filme dirigido e estrelado por Dennis Hopper e Peter Fonda e que acelerou rumo à primeira indicação ao Oscar para Jack Nicholson. Somente depois de percorrer a Rota 66 em companhia de Fonda e Hopper volte a tocar no guidom.
Reza a lenda que, em 27 de setembro de 1967, Peter Fonda estava descansando num hotel em Toronto, Canadá. Acendeu um baseado e ficou olhando uma foto de The Wild Angels (1966), que o mostrava junto a Bruce Dern em frente a duas motocicletas. Ali começou a nascer o mais cultuado road movie da Contracultura.
Segundo relatos da época, o diretor Dennis Hopper provocou revoltas ao mostrar-se um autoritário implacável e entrar em choque de egos com Peter Fonda. A estréia de Easy Rider em Cannes, em 13 de maio de 1969, foi recebida com um desconcertante silêncio, seguido da aclamação emocionada do público. Não ganhou a Palma de Ouro, mas Hopper foi considerado o melhor diretor novo. Recebeu duas indicações para o Oscar, nas categorias de melhor ator coadjuvante (Jack Nicholson) e melhor roteiro original. A crítica ficou encantada. Era o começo de um novo cinema americano.
O filme conta a história de dois amantes da liberdade quem têm paixão por motociclismo e pelo vento batendo no rosto, em uma trama bem costurada por motos, drogas e rock n’roll. Os nomes dos personagens foram inspirados nos fora-da-lei mais conhecidos do velho-oeste americano: Wyatt Earp e Billy The Kid. 


Trilha Sonora

A trilha Sonora de Easy Rider é assim mesmo, com S maiúsculo. Memorável, desliza pela Rota 66 com  Steppenwolf, Jimi Hendrix, Fraternity Of Man, The Byrds, e contribuições de Roger McGuinn, uma delas a clássica "Ballad Of Easy Rider".


Relógio 
No início da jornada, Wiatt, interpretado por Peter Fonda, já em cima de sua Harley Davidson, tira o relógio do pulso e arremessa no chão, em uma das mais marcantes cenas simbólicas da história do cinema mundial.
Desde 2001, corre o rumor sobre a produção de uma continuação para Sem Destino. A Miracle detém os direitos para três continuações do clássico.

26 de set. de 2009

Motoclubes

Um encontro de motoclubes é um dos eventos sociais festivos mais exóticos realizados por tribos urbanas. Variados perfis de vida orbitando entorno da paixão por máquinas e viagens. São, geralmente, três dias do mais autêntico espírito easy rider, misturado à pós-moderna noção de Zona Autônoma Temporária (TAZ).
Gravatas, notebooks, agendas abandonados na estante enquanto empresários, executivos,  jornalistas, funcionários públicos, agropecuaristas vestidos de aventureiros abandonam o estresse cotidiano em busca de liberdade, diversão ancorada em duas ou três rodas, bom papo, companhia agradável e cerveja gelada. Os motociclistas que habitam o Planalto Central e os irmãos de jaquetas de couro visitantes de outros estados contam com cerca de 12 eventos anuais de médio porte em Goiás. O Estado conta com mais de três dezenas de motoclubes em plena atividade, alguns ocupando espaço privilegiado no ranking nacional. Mas essa é uma história para um outro blog...

Hora de desligar o motor

Pede a saideira que agora é brincadeira e ninguém vai reparar/Já que é festa, que tal uma em particular. (Cazuza) 

O papo está sincero, mas a caravana com histórias do motociclismo em Goiás estaciona por aqui. Uma parada estratégica para reabastecimento. Mas a história continua. Pelo menos enquanto existir no planeta viventes que amam a liberdade, o vento, o sol, a amizade, máquinas rebeldes e a linha do horizonte riscando a estrada. Brothers in the wind.

25 de set. de 2009

Bibliografia Básica

Livros
BEY, Hakim. Zona Autônoma Temporária (TAZ), Conrad Editora, São Paulo, 2001


FILHO, Daniel. Antes que me Esqueçam, Editora Guanabara, Rio de Janeiro, 1988


GABEIRA, Fernando. Goiânia, Rua 57, O Nuclear na Terra do Sol, Editora Guanabara, Rio de Janeiro, 1987


GODINHO, Iúri Rincon. A História da Propaganda em Goiás, Contato Comunicação, Goiânia, 2006


KEROUAC, Jack. On The Road, L&PM, Porto Alegre, 2004


LUDD, Ned (org.). Apocalipse Motorizado A Tirania do Automóvel em um Planeta Poluído, Conrad Editora, São Paulo, 2005


NASCENTE, Gabriel. O Copo das Ilusões, EditoraKelps, Goiânia, 2004


THOMPSON, Hunter S. Hell’s Angels, Medo e Delírio Sobre Duas Rodas, Conrad Editora, São Paulo, 2004

Sites

Além de uma porrada de entrevistas divertidas, passionais, exageradas, inventivas...